Tão difícil quanto conviver com a diabetes é conviver com o risco eminente da hipoglicemia.
No início, não consegui entender como duas doenças, aparentemente tão antagônicas, poderiam conviver em uma pessoa só. Foi só convivendo com essa nova realidade, sofrendo muito e estudando, para procurar entender, que tudo foi se tornando mais claro. Não menos doloroso.
Meu filho é portador da diabetes Mellitus, conhecida como tipo um, que corresponde, no Brasil, a aproximadamente doze porcento dos casos. Mas são as crises de hipoglicemia que nos deixam sem chão…
Ontem, ele teve uma dessas. Deixou para trás, sua mochila, seu boné, seu celular, seu chinelo, outros pertences. Foi encontrado por sua madrinha perambulando pela rua, tentando achar o caminho de volta para a casa, depois de um treino pesado de basquete, durante a hora do almoço!…
Os bens materiais se foram, mais uma vez. A dinda lhe trouxe para casa, com a ajuda do pai de um amiguinho. A tristeza invadiu o seu coração. Quando o nível de açúcar volta ao normal, traz a melancolia junto com ele. E aí, meus amigos, tenho que ser uma super mãe, para não deixar a peteca cair! Segurar todas as ondas: as minhas, as dele e as de todos da família.
Mas e a vida? Esta segue seu curso, e a gente compra tudo de novo… Porque afinal, estar vivo é o que realmente importa, sem esquecer de agradecer a Deus, por colocar anjinhos no caminho do meu filho!
Tire suas dúvidas
O que é hipoglicemia?
A hipoglicemia é o nome dado à diminuição do nível de glicose no sangue. A hipoglicemia, por si só, não é uma doença, mas sim uma alteração secundária a outras doenças ou uso de medicamentos. A glicemia (nível de glicose no sangue) de jejum normal é de 60 a 99 mg/dl. Glicemias entre 50 e 60 mg/dl podem ser normais para muitas pessoas. Admite-se como hipoglicemia quando a glicose plasmática está abaixo de 55 mg/dl para homens e 45mg/dl para mulheres, independente do horário em que foi realizada.
Como é feita a confirmação da hipoglicemia?
São necessários três elementos importantes: (1) nível de glicemia abaixo do normal, (2) presença de sintomas compatíveis com hipoglicemia e (3) melhora dos sintomas após alimentação ou administração de glicose.
Como o nosso organismo mantém o controle da glicemia?
Quando uma pessoa se alimenta, durante o processo de digestão e absorção há um aumento da glicose no sangue. Diante disso, o organismo produz quantidades adequadas de insulina que permitem que esta glicose em excesso entre para dentro das células. Diante de um longo período de jejum, as células do corpo continuam consumindo a glicose no sangue e o organismo, para evitar que a glicose no sangue abaixe muito libera alguns hormônios que aumentam o nível de glicose como o glucagon, o hormônio de crescimento (GH), a adrenalina e o cortisol. Estes hormônios ativam a liberação do glicogênio (glicose estocada no fígado) e transformam outros nutrientes como proteínas e gordura em glicose. Assim, para haver hipoglicemia é necessário que haja um aumento de insulina ou uma diminuição dos hormônios hiperglicemiantes.
Quais são as causas da hipoglicemia?
Um grande número de doenças ou situações clínicas pode causar a hipoglicemia, que depende principalmente da idade do paciente e do momento em que ela aparece. Entre as causas da hipoglicemia de jejum podemos encontrar o uso de medicamentos como insulina e anti-diabéticos, uso de álcool, tumores produtores de insulina, síndrome genética, insuficiência hepática ou renal, deficiência de hormônios contra-reguladores (GH, adrenalina, glucagon e cortisol), anorexia nervosa e doenças de armazenamento de glicogênio. Entre as hipoglicemias pós-prandiais (que aparecem depois das refeições) temos principalmente a hipoglicemia reativa e aquelas que aparecem após a pessoa ter sido submetida a uma cirurgia de estômago.
Diabéticos também podem ter hipoglicemia?
Sim. Aliás, essa é uma situação muito freqüente mesmo em pacientes bem controlados. Neste caso, a hipoglicemia é causada pelos medicamentos utilizados para abaixar a glicose, como por exemplo, as insulinas ou comprimidos que estimulam a secreção de insulina pelo pâncreas.
O que é a hipoglicemia reativa?
É um tipo de hipoglicemia que ocorre geralmente após a refeição, desencadeada pela rápida absorção dos carboidratos levando o organismo a produzir uma quantidade de insulina maior que o necessário. Por isso, ocorre uma redução da glicemia com aparecimento dos sintomas aproximadamente uma hora e meia a 3 horas após a refeição. Pode estar relacionada a situações de esvaziamento rápido do estômago como ocorre em pacientes submetidos à cirurgia gástrica e a quadros de ansiedade e estresse.
Quais são os sintomas da hipoglicemia?
Diante de uma hipoglicemia, a pessoa apresenta dois tipos de sintomas: (1) os relacionados à diminuição de glicose cerebral e (2) os decorrentes da produção de adrenalina na tentativa de elevar a glicose.Entre os primeiros, os mais freqüentes são visão turva, tonturas, fraqueza, dor de cabeça, pensamento lento, formigamentos, sensação de fome, dificuldade de concentração, irritabilidade, alterações de comportamento e, em casos mais graves, convulsão e coma.
Já os sintomas causados pela liberação de adrenalina são mais freqüentes a sudorese, tremores e palpitações. Embora os sintomas possam variar de acordo com a pessoa, costumam ser os mesmos.
Como é feita a avaliação do paciente com hipoglicemia?
Dois aspectos são importantes: (1) confirmação da hipoglicemia e (2) identificação da causa. A confirmação da hipoglicemia deve ser um exame de sangue ou de glicemia capilar realizado no momento da crise. Para essa avaliação é recomendável que o paciente carregue consigo um glicosímetro para realização do exame no momento em que aparecerem os sintomas. Outra estratégia muito útil para se identificar o momento da hipoglicemia é um aparelho mais moderno chamado holter de glicose. Em algumas situações especiais, pode ser necessária a internação para indução de jejum prolongado. Quanto à investigação da causa, de acordo com as características clínicas, informações colhidas, exame físico e os exames laboratoriais são direcionados para as doenças mais prováveis para cada caso.
O que é um glicosímetro?
É um aparelho portátil, que mede de maneira confiável a glicose do paciente a partir de uma gota de sangue extraída da ponta do dedo com um aparelho chamado lancetador. A gota de sangue é colocada sobre uma fita reagente descartável e o aparelho calcula em poucos segundos a glicose daquele momento. O glicosímetro é muito útil para que o paciente possa registrar sua glicemia no exato momento em que aparecem os primeiros sinais da hipoglicemia permitindo a sua confirmação.
Tem boa relação com a glicemia plasmática apresentando variação aceitável e seu aprendizado é muito fácil. Em nossa clínica, normalmente emprestamos um glicosímetro para o paciente e damos todas as orientações de como utilizá-lo. Como em alguns casos o paciente pode ficar confuso durante a hipoglicemia, recomendamos que outra pessoa de sua convivência também aprenda a usar o aparelho.
O que é um holter de glicose?
É um aparelho que fornece um perfil contínuo de glicemias por um período de até 72 horas. Geralmente é colocado e retirado em laboratório e o sensor fica localizado no tecido subcutâneo. Mede continuamente a glicemia a cada 10 segundos e registra um valor glicêmico médio a cada 5 minutos. São realizadas, portanto, 288 medidas por dia. Este exame permite identificar as oscilações glicêmicas sendo de grande utilidade para correlação entre a glicemia e o horário dos sintomas.
O teste de tolerância à glicose é necessário?
O TTOG - teste de tolerância oral à glicose é um exame realizado em laboratório em que a pessoa bebe um líquido com alta concentração de glicose e faz medidas da glicemia a cada 30 minutos de 2 a 5 horas. Este exame ainda tem grande utilidade para pesquisa de diabetes em fase inicial e diabetes gestacional. Já foi muito utilizado para investigação de hipoglicemia reativa, mas seu uso para esta finalidade está cada vez mais restrito e por isso não o solicitamos com este objetivo. Além de desconfortável e demorado, ele não simula de maneira adequada a hipoglicemia pós-prandial e hipoglicemias obtidas nestas condições geralmente são assintomáticas e sem significado clínico. Além disso, a quantidade de glicose ingerida não corresponde a uma refeição usual. A dosagem da glicemia no momento da crise ou em jejum prolongado é o exame de escolha para investigação da glicemia.
Como é o tratamento?
O tratamento depende basicamente da causa. No caso de tumores, por exemplo, na maioria das vezes o tratamento é cirúrgico. Em diabéticos, o simples ajuste das doses dos medicamentos e reorientação alimentar é o suficiente. Nos casos de hipoglicemia induzida por medicação a suspensão ou devida substituição quando ela for essencial corrige o problema. Nos casos de hipoglicemia reativa e funcional o tratamento é clínico, com orientação nutricional e reeducação alimentar direcionada para o número de refeições e, sobretudo, redução do consumo de carboidratos de absorção rápida. Às vezes, pode ser necessário o uso de medicamentos que retardem a absorção dos carboidratos. Na prática clínica, em muitos casos, observamos que a melhora do estado nutricional com correção de eventuais carências vitamínicas e uma melhor adaptação ao estresse e aos problemas emocionais já trazem uma significativa melhora dos sintomas sem necessidade de medicação. (http://www.endocrinologia.com.br/html/hipoglicemia.htm)