terça-feira, 30 de abril de 2019

Andança

A gente pegava o ônibus 606 na Rua Dias da Cruz a caminho da escola, que não era perto. Até parecia ônibus escolar. Cada uma pegava num ponto, como num encontro marcado. Todas normalistas. Destino: o Instituto de Educação do Rio de Janeiro, na Tijuca.

Todo dia era sempre igual. E, com a alegria da juventude, íamos cantando pelo caminho e afastando todos os males. No repertório estavam especialmente as canções de Chico Buarque, Elis Regina, Milton Nascimento e de outras feras da música brasileira. Era mesmo outra época…

Sempre gostei de cantar.

Mas, entre todas as canções que marcaram aquelas viagens pelas ruas na zona norte do Rio, havia uma em especial, que enchia meu coração de amor e alegria. Era Andança! Sem dúvida, a minha favorita. A gente se dividia em dois grupos para fazer as duas vozes e ficava muito lindo. Sentia que as outras pessoas nos acompanhavam baixinho.

Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós a criaram, mas era cantada por Beth Carvalho e os Golden Boys. Andança falava de amor com jeito de um final feliz. Um amor parceiro, que valia a pena querer estar e caminhar juntos. Prato cheio para uma adolescente romântica e apaixonada.

Por onde for quero ser seu par…

A vida pregou-me muitas peças. Caminhei sim, mas para bem longe daquelas ruas da zona norte do Rio de Janeiro. O par deixou de ser par e fazer parte. Houve final, mas não foi feliz.

Da adolescente romântica e apaixonada, apenas lembranças como daquelas doces viagens rumo ao colégio Normal. Ah! E a música favorita.

Andança faz parte da principal trilha sonora da minha vida. Amarei para sempre.

Beth Carvalho hoje embarcou na poesia e não habita mais entre nós… Deixou meu coração carioca mais triste.

ANDANÇA

Vim, tanta areia andei,
Da lua cheia eu sei,
Uma saudade imensa
Vagando em verso, eu vim
Vestido de cetim,
Na mão direita rosas
Vou levar
Olho a lua mansa a se derramar,
Ao luar descansa meu caminhar
Vim de longe, léguas, cantando eu vim,
Vou não faço tréguas sou mesmo assim
Por onde for quero ser seu par
Já me fiz a guerra por não saber
Que esta terra encerra meu bem querer
E jamais termina meu caminhar
Só o amor ensina onde vou chegar
Por onde for quero ser seu par
Rodei de roda, andei,
Dança da moda eu sei
Cansei de ser sozinho
Verso encantado usei,
Meu namorado é rei
Nas lendas do caminho
onde andei
No passo da estrada só faço andar,
Tenho a minha amada a me acompanhar
Seu olhar em festa se fez feliz
Lembrando a seresta que um dia eu fiz
Por onde for quero ser seu par
Já me fiz a guerra ...


Que venham outras histórias e canções.

Quem nasce romântica, está sempre apta a se apaixonar.