A gente nunca vai esquecer aquela carinha inchada, quando pela primeira vez, vimos nosso filho, ainda na sala de parto… Aquela coisinha “esquisita”, sujinha, de boca arreganhada, num choro cheio de vida! Esta cena nunca sairá do nosso baú da memória. Desde este momento, aquele amor, que foi nascendo entre nós, mãe e filho, durante os noves meses anteriores, torna-se visível e concreto. Dali irão se estabelecer laços indissolúveis, para o resto de nossas vidas.
Nada há de ser comparado ao amor da mãe pelos filhos!
E aquela coisinha nossa aprende a nos reconhecer, a nos chamar de “mãe”, a criar conosco também o mesmo vínculo amoroso. No início somos a principal fonte de alimento. Saciamos a fome, matamos a sede, acalmamos…
O tempo passa. Os filhos crescem… Ainda temos por eles o mesmo zelo e o mesmo encanto. Eles aprendem, relacionam-se com o mundo, desenvolvem-se e tornam-se pessoas diferentes de nós. E isso é sempre muito difícil para a gente aceitar…
Sempre achamos que nossos filhos deveriam ser como nós. Deveriam ter aprendido com os nossos erros. Deveriam ter seguido à risca a cartilha que lhes ofertamos. Afinal, nós sabemos o que é melhor para eles – pelo menos, é isso que costumamos pensar. Mas será que sabemos mesmo?
Tenho certeza de que todas nós nos esforçamos para lhes oferecer a melhor educação possível. Investimos neles. Corrigimos nas horas certas. Cometemos excessos, com certeza. Mas sempre pensamos em os preparar para a vida. Um curso de inglês, uma escola de balé, aulas de guitarra e violão, natação, taekwondo. Tudo que eles quiseram. Viramos a noite, planejando quando e como poderíamos lhes dar. E se não estivesse na nossa alçada, muitas vezes sofríamos mais do que eles…
Acontece que esses filhos se tornaram pessoas, diferentes de nós. O mundo em que eles vivem não é mais como o nosso! Evoluiu. Modificou. Avançou. Retroagiu. E eles são mesmo diferentes de nós. Não fazem as escolhas que faríamos. Não tomam os caminhos que escolheríamos. Não dormem cedo. Não querem legumes. Deixam comida no prato. Às vezes nem almoçam! Não levam o casaco. Detestam o guarda-chuva. Entram em enrascadas. Fazem coisas que condenamos. Nossos filhos são imperfeitos, como nós!
Tão difícil, quando chegamos a esta conclusão! Confessemos: não estamos preparadas para este dia. Nunca estaremos, porque nós desejamos para eles, o melhor bem do mundo! Se pudéssemos os protegeríamos, noite e dia, das frustações e destemperos dessa vida tão difícil. Mas não é assim que as coisas acontecem. Nem poderia ser. Cada pessoa é livre para levar a sua vida do jeito que achar melhor. Até os nossos filhos!
Liberdade para escolher. Liberdade para viver. Liberdade ampla, total e irrestrita. Filhos adultos. Chegou a hora de parar de sofrer. Aceite-os. Você já fez a sua parte. Já lhes ensinou tudo que sabia, que podia, que devia. Agora é a vez deles decidirem.
O nosso papel de mãe passou a ser outro. Viramos parceiras e companheiras. E o nosso ombro precisa ser mais largo, para deitar suas cabeças, quando eles precisarem. Com certeza vão errar, vão chorar. E nós precisamos estar sempre por perto. Uma palavra amiga. Um abraço confortante. Um bolo gostoso pra comermos juntos. E conversarmos, horas a fio…
Mãe é assim. Mãe é meio anjo, meio fada, meio tudo. Mãe é com quem realmente podemos contar. Aprendemos isso. Ensinamos também. Agora é só viver. Afinal, aquele amor que nasceu no primeiro olhar, há de permenecer para sempre!
(Para Luiz Fernando e Gustavo)