Hoje eu queria que alguém falasse por mim. Estou triste e cansada. Mas tenho certeza que ninguém saberia expressar o que sinto. Talvez nem eu.
Vivi a infância nos anos duros, da década de sessenta. Brasil fechado em concha. Nada a declarar. Cresci, estudei e formei-me professora, juntamente com a aurora da abertura política no país. Novos tempos! Novos horizontes.
Adolescente cantei Chico e aprendi a apreciar as entrelinhas. E assim conheci o poder que as palavras têm! E assustam… Tem poder quem tem conhecimento e astúcia. Mas é preciso ter ética para construir valores e impor-se limites.
Nas faculdades, ampliei meu leque de saberes e os aprofundei em discussões e experiências que me fizeram reconhecer e separar o joio do trigo. Descobri o livre arbítrio.
No trabalho, pude exercitar tudo que aprendi e fui aprendendo uma lição nova a cada dia… E nunca mais parei.
Participei, interagi, construí. Ouvi, palpitei, discuti. Tomei na cara, dei de ombros, chorei sentada no meio-fio. Posso dizer que não vi a vida passar debruçada na janela. Estive nela, como guerreira.
Nada me foi dado. Nada veio fácil. A cada dia, uma batalha a ser vencida.
Já calei. Já me calaram. Já falei. E nem fui ouvida… E hoje estou assim: passada! Cansada. Envergonhada.
Por tudo que já construímos, uma página na história que não deveria ter sido escrita…
Sinto muito. Por ser mulher. E por acreditar em ideais verdadeiros!
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