A diabetes é uma doença silenciosa. Não manda avisos. Chega de repente!
Gustavo estava cada dia mais magrinho. E eu admirada que o basquete estivesse causando toda esta perda de peso! Mas associada ao emagrecimento, uma sede que não passava e uma vontade quase interrupta de fazer xixi. Ele tinha onze anos, quase doze.
Marquei o pediatra. Só que, hoje em dia, a gente não consegue a consulta de imediato. Nem no melhor plano de saúde! A consulta foi marcada para uma semana depois.
Dias antes, porém, ele chegou na janela e disse que não estava conseguindo ler o que estava escrito na placa da loja da esquina. Estremeci. Minhas desconfianças estavam se concretizando…
Eu já havia lido sobre os sintomas da diabetes. Mas não sabia, nem desconfiava, que ela se dividia em dois tipos. Para mim, só quem comia “errado”, exagerando nos doces e tinha casos na família, é que poderia ter a doença. Eu não sabia mesmo nada sobre ela…
Um dia antes da consulta médica, Gustavo não levantou mais da cama. Um mal estar generalizado. Dor intensa de cabeça. Fomos para o hospital. Não tinha pediatra. Fomos a outro que não atendia nosso plano, mas recebeu-nos na emergência.
Uma gotinha de sangue, retirada da ponta do dedo, em jejum, apontou mais de 300 mg/dl de glicemia!!! Internação imediata. Retornamos ao hospital do nosso plano e a pediatra da UTI fez a sua internação. A confirmação da doença demorou três dias: diabetes Mellitus tipo 1.
E a minha cabeça começou a girar… Sabe o que eu sabia, realmente, sobre essa doença? Nada…
A sensação é que meu mundo caiu. Desmoronamento total. Me senti caminhando no desconhecido, no vazio e, ao mesmo tempo, tudo dependendo de mim!
Dra. Elsemary, endocrinologista, foi fundamental. Paciente, amiga, humana, profissional. Ajudou no que pode. Daquelas médicas disponíveis para tirar nossas dúvidas e angústias, 24h por dia. Nunca terei como agradecê-la!
Quando Gustavo deixou o hospital, a glicemia ainda não estava totalmente controlada, mas, pouco a pouco, foi entrando nos eixos. Uma nova vida nos aguardava, em casa. Vida com canetas, agulhas, insulina e medição de glicose várias vezes ao dia.
Aprendi que a diabetes Mellitus tipo 1 também é conhecida como diabetes infanto-juvenil e já vem de fábrica… Afinal, Gustavo sempre comeu de tudo e nunca abusou dos doces. Só que, até agora, não sei de quem ele herdou a doença. Deve estar na família e ter pulado algumas gerações.
Aprendi, também, que não há como não envolver todos os membros da família na nova vida. Uma mudança total de hábitos para todos! E isso também é fator de união.
Mas aprendi, principalmente, que é possível ser feliz convivendo com a diabetes. Apesar da necessidade de organização e da vida regrada, é possível realizar quase tudo que qualquer pessoa pode ser ou querer! Existe uma coisa chamada adaptação. E, nisso, o ser humano é mesmo craque! A gente se adapta, quando aceita, aprende e busca alternativas.
Pequenos gestos de acolhimento e conforto são bem-vindos e tornam-se fundamentais neste processo. Um irmão que partilha, que ajuda, incentiva! Divide. A madrinha que aprende a fazer bolos e doces diets e experimenta receitas novas só para ver o sorriso no rosto do afilhado… Uma amiga que vai ao supermercado e faz uma compra só de guloseimas diets e dá a sacola com carinho para o filho seu… Não tem preço!!!
Foi tudo bem assim.
E deve ser parecido com outras milhares de histórias de pessoas que descobriram que seus filhos eram portadores de diabetes Mellitus tipo 1.
Não é o fim do mundo. É o início de uma nova história que pode muito bem ser contada com alegria e disposição.
Sou mãe-pâncreas, com muito orgulho de desempenhar com garra e determinação o meu papel. Nunca fugi da raia!
Dia 14 de novembro, uma data para lembrar e compartilhar experiências.
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