Mais uma história real, escrita por outra mãe apaixonada.
“Oi! Vou contar um pouco de minha história para você porque quero que me conheça e quero fazer mais um amigo.
Nasci numa casa comum, numa família qualquer, em um canto qualquer deste Brasil. Fui um bebê pequenino e frágil que cabia na palma da mão. Cresci, desenvolvi, aprendi com meus pais aquilo que aprenderam com meus avós, mas tinha alguma coisa diferente em mim, pois era calado, brincava sozinho, era inquieto e imperativo em meus gestos.
Hoje tenho nove anos e tudo o que você me fala levo ao pé da letra e por isso sofro por não te entender e porque você também não me entende.
Dizem que não sou sensível, que não tenho emoções, isso não é verdade, pois sou passional até demais e quando choro ou fico nervoso, quão grande é o esforço para me controlarem e no minuto seguinte à crise continuo a minha existência como se nada tivesse acontecido.
Na escola como foi difícil, me assustou com a formalidade, com o sistema padronizado e com as normas, estas, que muitas vezes quebrei, não por querer, e sim por não entender. Vieram os professores, os terapeutas e fui retirado do meu mundo e colocado no seu e o achei difícil e cruel comigo, pois muitos não me aceitaram, me julgaram antes de me conhecerem e, mesmo assim, encarei o desafio e estou aqui falando com você e te digo que descobri que há pessoas que entendem as diferenças e as colocam em destaque para que você reflita e tente me aceitar ou, pelo menos, me respeitar.
Fui chegando, ficando, sendo incluído. Conheci uma professora que mudou a minha vida e nem percebi isso. Quem viu foi minha mãe que me colocou na escola esperançosa em ver meu progresso, mas consciente de minha realidade porque diziam a ela que eu demoraria anos para ser alfabetizado. Minha mãe viu esta professora, mesmo com uma turma grande e agitada, dedicar horas de leitura para conseguir me compreender, quantos materiais de aulas elaborados especialmente para mim e também as muitas atividades as quais foram propostas por esta professora que não desistiu de me ensinar.
Em um dia ensolarado céu azul límpido e com uma brisa fresca e constante, estávamos eu e minha mãe em nossa jornada diária rumo à terapia quando olhei para ela e disse: " Olha mamãe ' ro-do-vi-á-ri-a' ! Vamos pegar esse ônibus para ir à casa da vovó?" (que fica no Rio de Janeiro) Minha mãe me olhou surpresa e eu vi uma lágrima sair de seus olhos, mas não entendi porque ela estava chorando.
Eu não percebi o passo que dei em minha vida, mas minha mãe percebeu e viu que o meu mundo começou a se encaixar dentro do seu e ela diz que pessoas com consciência podem tomar qualquer rumo em suas ações e são capazes de mudar vidas e construir histórias com finais felizes. Não sei porque minha mãe chorou, mas penso que deve ser por causa da minha professora e eu.
Você não sabe quem sou eu, como sou inocente em meu pensar e como eu tento me esconder em meu mundo por não entender o seu e você também não me conhece e por isso vou me apresentar:
- Muito prazer, sou um autista.
Esta história é um relato real de meu filho Giovanni.”
Rejane Nascimento de Figueiredo
Todo dia é dia de se reconhecer a importância do professor na vida de uma criança. Ele pode fazer, mesmo, toda a diferença.
A professora de Giovanni é Regina Afonso, com quem tive o prazer de trabalhar, por muitos anos.
Ter seu esforço reconhecido é, sem dúvida, uma merecida homenagem!
Trabalhar com alunos especiais é sempre uma caixinha de surpresas. Giovanni foi aquele aluno que a sua médica me pediu que não tivesse expectativas em sua alfabetização, pois ela não conseguiria dizer se algum dia ele iria aprender. Quando percebi nele a compreensão dos sons das consoantes, investi junto da estagiária Hortência que acreditou comigo que era possível e... está aí nas palavras da mãe dele o resultado de dois anos de trabalho intenso e com muita compreensão da mãe.
ResponderExcluirMuito lindo!Graças a Deus que ainda existe pessoas assim.Parabéns! Bjuuus Suelly.
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