Era muito tempo atrás... Talvez nem tanto. Falar de tempo é sempre um tanto relativo.
Era eu no Rio de Janeiro. Rua Porto Alegre, Engenho Novo. O endereço que ainda faz parte de mim. A parte de que sinto falta.
Era eu ainda pequena. Meninota. Serelepe. Cheia de sonhos e alguns pesadelos, como qualquer criança.
Era eu brincando de bonecas, amarelinha, jogando bola, enchendo o quintal de bugigangas e demorando horas aborrecidas para guardar aquilo tudo, ao final do dia.
Era eu na mesa da copa, lanchando café com leite e molhando nele o pão com manteiga. Algumas vezes, escorria o leite pelo queixo e descia até a barriga. Fazia cócegas e a maior melança!
Era eu descalça, com os pés imundos, recusando a lavá-los, sonolenta, na hora de dormir...
Era eu que queria comer todos os doces, todos os biscoitos, todos os sucos e nenhum legume.
Era eu que sentava naquela mesma mesa das refeições para fazer a tarefa de casa da escola. E, quando não sabia fazê-la sozinha, pedia ajuda a minha avó, que só tinha estudado até a 4ª série, mas sempre sabia tudo e estava pronta para ajudar!
Era eu que morava ao lado da casa dela e sentia o cheiro do seu café fresquinho.
Fui eu que vivi uma infância com grandes perdas e enormes dificuldades, mas recebi muito amor para compensar.
Sou eu que deixei de ser pequena e que cheguei até aqui. Parece até mentira que já vivi tudo isso...
Ô saudade que às vezes aperta!
(Dedicado a todos que ajudaram a acalentar a minha infância e ao querido amigo Hércules que provocou estas memórias.)
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