(Por Makely Ka)
"Sobre a tragédia da barragem de rejeitos da Samarco que se rompeu em Mariana eu gostaria de dizer algumas coisas. Trabalhei ali ao lado, na mina de Timbopeba durante um ano. Ainda tenho amigos lá.
Em primeiro lugar é importante dizer que a Samarco pertence à Vale. Essa notícia em geral não aparece nas matérias que li. Aliás, a notícia é tratada na imprensa como uma catástrofe natural, como um furacão ou um terremoto. Chamadas como "Barragem se rompeu" ou "Distrito foi inundado por lama" parecem tentar encobrir a responsabilidade que é da Samarco/Vale. Na sequência virão analistas dizer que a empresa é séria e monitorava as barragens com tecnologia de ponta.
Conversa, uma barragem de rejeitos a rigor é uma bomba química prestes a explodir a qualquer momento. O acúmulo de material tóxico durante anos é um dos grandes ônus da mineração, o lixo embaixo do tapete, para além de todo o impacto ambiental decorrente das escavações das minas e do transporte do minério propriamente ditos. O que vai parar na barragem de rejeitos é o que sai dos tanques de flotação com reagentes químicos para separar o minério de ferro dos demais componentes por decantação. É lama extremamente tóxica.
Em segundo lugar, é necessário dizer que a atividade mineradora em Minas é predatória e altamente periculosa. As mineradoras não monitoram as barragens, elas empurram com a barriga. O que elas monitoram mesmo é a informação que sai quando acontece o inevitável. No período em que trabalhei na Vale em Timbopeba, que teve seu mineroduto também atingido pela lama, vi pelo menos três acidentes graves que foram abafados. Esse de Bento Rodrigues, pela dimensão e alcance não pôde ser amordaçado. Mas barragem de rejeito é isso, uma hora acaba rompendo, como tantas outras romperam e continuam rompendo todos os anos. Não existe segurança, é uma bomba relógio. A mineração em Minas devia ser interrompida e revistas as leis, porque essa exportação de commodities só gera riqueza para as empresas. Vendemos minério para a China a preço de banana e o que ganhamos com isso? Um impacto ambiental e social irreversível nas comunidades próximas; a degradação das condições de trabalho; o esgotamento do lençol freático precipitando uma crise hídrica sem precedentes e tragédias periódicas e previsíveis como o rompimento de barragens.
Enquanto isso o governador deu entrada na Assembléia Legislativa semana passada num Projeto de Lei (PL 2.946/15) em caráter de urgência propondo a reestruturação do Sistema Estadual do Meio Ambiente (Sisema) para agilizar os pedidos de licenciamento ambiental em Minas Gerais.
Estou acompanhando as notícias em busca de informações sobre as vítimas e vai dando um misto de revolta e tristeza. Toda solidariedade às famílias das vítimas fatais do acidente, à comunidade de Bento Rodrigues e Camargos e aos operários atingidos. Muitos ainda estão desaparecidos, soterrados ou ilhados pela lama. Torço para que sejam resgatados com vida!"
E eu, que moro no litoral capixaba, aguardo, ansiosa e perplexa, pelos efeitos devastadores que esse desastre trará para toda a região, por muitos e muitos anos...
(Imagem: Paulo Randow)
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