sexta-feira, 14 de julho de 2017

Saudades do meu avô Manoel


Gente da minha idade também sente saudades do avô... Acreditem, hoje ela está batendo forte. Seria o seu aniversário.

Pelos meus cálculos, não sei com exatidão, ele faria cento e nove anos. Talvez menos, talvez mais. Não muito. Ele se foi muito cedo e tenho poucos dados a seu respeito. Sei que nasceu no Rio de Janeiro, no bairro do Catumbi. Era mecânico e trabalhava na própria empresa, herdada do pai, meu bisavô Joaquim. 

Almoçava em casa todos os dias, entre 10h30 e 11h. Detalhe que nunca esqueci. Eu morava na casa ao lado e acompanhava sua rotina. Vez ou outra, almoçava junto. Ele gostava da comida que minha avó fazia. Comida caseira, com toque português. Ainda que minha avó fosse filha de italianos, logo aprendeu a culinária lusitana para agradar o marido. Eu gostava das duas.

Meu avô falava baixo e não enchia os lugares com sua presença. Era tímido e silencioso. Das poucas lembranças que ainda guardo, tenho aquela em que ele me dava alguns trocados para comprar doces no armazém da esquina. Posso visualizar a cena: ele enfiava a mão no bolso e tirava o dinheiro todo amassado lá de dentro... Escolhia alguma nota e me entregava, com um sorriso que brotava no canto da sua boca... E eu sumia pelo corredor em busca da calçada... Lá ia eu atrás do Seu Nogueira e suas balas.

Meu avô era cego de um olho desde menino. Levara um tiro de chumbinho, de alguém que atirava em passarinhos. Mas jamais se viu ou agiu como um deficiente físico. Um olho lhe bastava para enxergar o mundo! Era um homem de atitude e de trabalho. Inteiro. Íntegro. Perfeito na sua imperfeição.

Um dia, uma surpresa! Meu avô me presenteou com uma Caloi 10! Era uma bicicleta vermelha, aro 20, dobrável. Aprendi a andar nela. Foi pouco tempo antes dele morrer. Lembro que a bicicleta foi minha companhia nos momentos mais tristes da minha infância... Era 1969. Pai e avô, um após o outro, no mesmo ano... Partiram sem volta.

Gente da minha idade também sente falta de ser amada e de se sentir protegida... Também sente tristeza quando algumas datas especiais surgem no calendário. Algumas fazem chorar...

Eu só queria ter certeza, certeza absoluta, de que meu avô ainda existe num plano superior e que, de alguma forma, ainda pensa em mim... Porque eu queria que ele soubesse que sinto muita falta dele.


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