(Foto: Estadão)
Sábado de aleluia há muitos anos atrás… Rio de Janeiro.
Na véspera, meu pai, meus tios e seus amigos se metiam no quarto dos fundos, para confeccionarem, secretamente, um dos “Judas” que seriam colocados nos postes, naquela madrugada. O amanhecer do sábado traria a sentença para alguém!
Eu era criança. Não entendia bem os motivos, mas os comerciantes do bairro ficavam enfurecidos com “as homenagens”. Às vezes, estava lá o Seu Armando por causa do preço do pão ou do troco constantemente incorreto. Outro ano, era o Seu Nogueira, da mercearia. E eu nem lembro mais os nomes dos personagens confeccionados com as roupas velhas que eu conhecia bem… .
Só lembro da alegria da garotada, quando chegava a hora de malhá-los! Corriam com os Judas pelas ruas (sempre tinha mais de um!), embaixo de pauladas, até não sobrar mais nada inteiro deles. Só um monte de pano deformado. E então: ateavam fogo! Um ritual bastante macabro, diga-se de passagem. Nunca participei. Só apreciava de longe.
O tempo passou e hoje nem sei se isso ainda existe, nos sábados de aleluia. Pelo menos, não onde moro. Ninguém nem fala no assunto. Mas eu sinto saudades daquela época. Confesso que achava tudo muito divertido. E, também, porque era a nossa hora da vingança. Quando podíamos demonstrar toda insatisfação com os opressores do bairro.
A brincadeira tinha um fundo sério de denúncia! E quando relembro daqueles dias, de uma época tão tão distante, sinto muito orgulho do meu pai. Do seu jeito, e dentro das suas possibilidades, era um ativista em prol da sua comunidade. (Naquela época, não se malhava os políticos porque vivíamos os anos de ferro da ditadura. Era uma questão de sobrevivência!)
Se essa moda perdurasse até hoje, faltariam postes para tantos Judas homenageados, por esse Brasil a fora.
A coisa está feia!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são de responsabilidade única dos seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião do blog.