Eu brinquei do que eu quis. Adorava um brinquedo! Bonequinhas de papel, panelinhas, jogo da memória, patinete, bichinhos de pelúcia. Eu era uma brincalhona!
Nem conhecia o conceito de reaproveitamento, mas já o praticava, inventando brinquedos com tampinhas de creme dental, de refrigerantes, caixinhas vazias, trecos em geral. Naquela época, a indústria de brinquedos não era muito diversificada, o que nos estimulava a criar alguns.
Ninguém se preocupava se eu estava brincando com brinquedos específicos para meninas ou para meninos, porque essa preocupação é invenção da modernidade. Criança, naquela época, podia brincar do que quisesse. E eu, como tinha muitos primos e primas, brincava com tudo, de tudo.
Bang-bang, comidinha, polícia e ladrão, casinha, pique-bandeira, pular corda, amarelinha... Meus primos eram os pais e nós, as primas, as mães dos nossos bonecos. E a gente inventava muitos enredos para as brincadeiras! Meninos pegavam nas bonecas e ninguém se assustava com isso. Muito menos nós.
Tive muita sorte em ter sido criança na época em que se podia ser apenas criança, com total liberdade para brincar e sonhar. Apesar da tristeza de ter perdido meu pai aos sete anos, a infância continuou regada de fantasia e permissões.
Contemplo a infância de hoje, que ainda traz a mesma vontade ingênua de outrora: de brincar, experimentar, ser feliz. Criança que brinca com caixa vazia, com toquinho de lápis, com resto de comida no prato... E em suas mãos colocam jogos eletrônicos e outros aparelhos tecnológicos. E em sua cabeça criam necessidades de consumo desenfreado. E as fantasiam de "adultos", gerando pensamentos e necessidades fora de hora!
O que estão fazendo com nossas crianças???
E, como hipócritas, questionam se meninas podem brincar de carrinhos e meninos de bonecas! Quanta hipocrisia! Criança é criança. Brincando, experimenta a vida. Brinca do que quiser. Afinal, meninas, um dia, terão seus carros... E meninos segurarão seus filhos no colo... Tudo faz parte da vida. De ambos.
As verdadeiras e justificadas preocupações dos pais devem ser outras. Se estão protegidos. Se estão tendo acesso à educação e à saúde. Se tem amigos. Se estão vivenciando uma infância sadia. Se são felizes. Se terão direito a um futuro de qualidade. No mais, é conversa fiada de quem não entende nada de criança e deve ter tido uma infância bem ruim... O que eu lamento muito.
No Dia das Crianças, brinque com seus filhos. Seja parceiro e presente em suas vidas. Participe. Esteja aberto ao diálogo. Isso sim fará muito mais diferença do que o uso de qualquer brinquedo. A boa referência é fundamental na educação de uma criança. Especialmente a dos pais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são de responsabilidade única dos seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião do blog.