Era uma vez…
Perdoem-me, mas desisti do Conto de Fadas. Sei muitos preferem viver de sonhos, mas eu não tiro meus pés do chão.
Recordo-me muito bem do casamento de Diana e do Príncipe Charles. Foi em mil, novecentos e oitenta e um – o mesmo ano que eu me casei! A cerimônia aconteceu dois meses antes da minha. Lembro de ter acompanhado parte da cobertura da imprensa sobre o grandioso evento. Ficava pensando se aqueles dois se amavam mesmo ou era tudo um grande espetáculo da dramartugia…
Eu e Diana, duas mulheres tão distintas! De afinidade, apenas o mesmo ano de nascimento. Morando em continentes distintos, falando línguas diferentes, vivendo uma realidade totalmente diversa: assim éramos nós duas. Mas depois vieram outros pontos em comum: nossos maridos não nos amava e nosso casamento não foi adiante. Diana, no fundo, padeceu dos mesmos problemas das mulheres comuns. E morreu num acidente de trânsito… Banal.
Ah, essas princesas! Mulheres mortais. Normais. Sentem cólicas, padecem na TPM, amam e nem sempre são amadas… Presas, voluntariamente, em gaiolas de ouro. Pássaros com asas podadas. A vida tão devassada! Pobres princesas… A vida íntima estampada nas manchetes dos tablóides. O mundo comenta e, muitas vezes, inventa.
Deve ser triste viver sob holofotes. Não há riqueza que pague o direito de ter a vida fora dos olhares curiosos, invejosos, indiscretos. Detestaria que o mundo comentasse a cor das toalhas que cobrirão as mesas da festa do meu casamento.
Princesas são personagens, na vida real. Algo realmente sem sentido. Num mundo atual, globalizado, onde a democracia se solidifica como utopia multinacional, como conceber essa idolatria por uma Família Real? Confesso que fico indignada. O massacre de informações sobre o casamento do príncipe William e Kate Middleton está me deixando enjoada.
Pode ser que os nubentes se amem de fato e eu torço, realmente, por isso. Pode ser que o casamento dê certo. Pode ser que sejam felizes. Ou não! São duas pessoas reais, de carne e osso, jovens e saudáveis. Possuem histórias de vida diferentes, incluindo valores e hábitos. Ou seja, fora o fato de pertencerem à Realeza Britânica, as chances de realizarem um casamento feliz é a mesma de todos os casais. Uma loteria!
A verdade é que, nos Contos de Fadas, as princesas representam o BEM, enquanto as bruxas são as vilãs. Desta forma, no fundo, assistir (e participar, aplaudir, se emocionar…) o casamento de Kate é torcer para o bem vencer o mal. O ápice de toda história de princesas! Só esta metáfora pode explicar o fascínio das pessoas pelo casamento de um casal estranho e distante de nós.
Só que essa história não termina com um “…E foram felizes para sempre!… Pode ser que termine com um punhado de filhos sucedendo-se no trono inglês. Pode ser que termine em divórcio letigioso. Pode ser que termine com um acidente de trânsito fatal. Não estamos num Conto de Fadas. Estamos falando de vida real. É preciso sair do transe.
A verdade é que o casamento real está trazendo divisas para a Inglaterra. Está sendo um ótimo investimento financeiro: turistas cheios de dólares e euros, milhares de “lembrancinhas” com o rosto do jovem casal à venda, cobertura maciça da imprensa, propagandas, dinheiro, dinheiro, dinheiro… Um ótimo negócio realmente.
Melhor ler os livros e assistir os filmes de Harry Potter e seu mundo mágico, que são ambientados na mesma Inglaterra. Nesta história, o BEM é mais democrático: também está nas mãos de alguns bruxos. E os personagens, por mais irreais que sejam, são mais carismáticos e mais envolventes que esses da vida real.
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