“O que Deus uniu o homem não separa…” Ouvi esta frase uma vez.
Eu tinha apenas vinte anos. Já namorava há cinco. Praticamente crescemos juntos. Estudávamos na mesma escola; na sétima série, até na mesma turma. E eu me apaixonei. Amor da juventude. Amor por inteiro.
Entre raros encontros e muitos desencontros, na hora do recreio, esse amor foi crescendo, dia-a-dia. Adorava vê-lo chegar. Descia as escadas, cheio de ginga. Calça justa, camisa do uniforme coladinha no corpo esbelto, mascando chicletes. Os cabelos enrolados como de anjo, olhos escuros e astutos, como de gato. Quando ele chegava, meu coração dava pulos, mal cabia no meu peito. E ele sabia. E ria. Nem me dava bola…
No fim do ano, saiu da escola. Ano seguinte, já começado, voltou para mim. Pelo menos, foi assim que pensei, enquanto corria feliz pelos corredores da escola, ao saber da notícia. Não fomos mais da mesma turma, mas ainda assim era muito bom tê-lo por perto.
Nessa época, ano de 1976, Maria Bethânia cantava “Olhos nos Olhos” e fazia muito sucesso. E foi ao som desta música que nos beijamos, pela primeira vez, no baile de nossa formatura, conclusão da oitava série. Naquela noite, dormi sorrindo. Mal podia acreditar que eu tinha conseguido!
O namoro começou então, desde aquele momento. Éramos pouco mais do que crianças. Crescemos juntos. Aprendemos juntos. Descobrimos o amor da pele e dos sentidos. E fomos assim um do outro. Tantas dificuldades enfrentamos. Meus pais eram muito rígidos. Mal podíamos nos ver livremente. Até que resolvemos nos casar…
O dia 31 de outubro, cheio de superstições hoje em dia, naquela época era apenas véspera de feriadão. Por isso escolhemos essa data. Manhã de sol. Dez e meia da manhã. Igreja cheia de parentes e amigos. Emoções à flor da pele. Trocamos, assim, as alianças.
A família ajudou. Muita gente ajudou. Conseguimos o nosso cantinho. Apertado, mas muito aconchegante. E aquele amor se concretizou num menininho que veio ao mundo, dois anos depois.
Esta história que teve um início tão feliz, não foi adiante. Durou apenas quatro anos. O amor não era recíproco. Um engano aconteceu, de ambas as partes. Um achou que era amado, o outro achou que amava… E quando a verdade veio à tona, trouxe junto a separação.
Naquele dia eu morri. A menina morreu. No seu lugar, nasceu a mulher. Me vesti para a luta que iria começar. Em dias, aprendi tanta coisa. De tudo, o mais difícil foi deixar de amar!
Deixei de viver a vida que sonhei. Deixei de acreditar que os amores são para sempre. Ainda hoje, percebo que sinto muito não ter vivido aquela história de amor... Bom isso tudo ter acontecido tão cedo. Tive tempo para me refazer. Uma das coisas que aprendi é que sempre haverá uma manhã de sol, após a tempestade, por pior que ela seja… Não interessa que danos tenha causado, sempre haverá uma forma de recomeçar.
A pessoa eu não amo mais. Mas o amor que eu senti por ela, ainda trago guardado no peito. Amor primeiro, puro e verdadeiro. No museu do meu coração, ele repousa como lembrança. Uma prova irrefutável de um sentimento tão profundo e completo que consegui sentir um dia… E nunca mais.
No fundo, no fundo, estamos todos num baile de átomos de carbono, dançando entre alguns outros, movidos por uma energia gravitacional magnética tão abstrata quanto poderosa, que chamam amor.
ResponderExcluirSomos todos uma coisa só e o balé do que foi se apresenta sempre ao lado do que poderia ter sido. Menos cênico, talvez menos romântico, mas muito mais profundo em sua complexidade e autenticidade.
Mas o mais surpreendente é perceber que o folclore americano estava certo sobre o 31 de outubro...
Ansioso pelas próximas histórias!
É denise, realmente tenho que concordar com suas palavras, o 1º amor, o 1º homem serão inesquecíveis, mesmo que hoje seja nossos companheiros, mas de3ixaram marcas que dificilmente iremos esquecer. mas será que eles também pensam assim?os homens não têm a sensibilidade que temos. Será que alguns se lembram do seu 1º beijo como nós? mas acho que se lembram da 1º transa com muito mais facilidade... Infelizmente! bjs
ResponderExcluirSou obrigada a concordar com você, Ivo. As bruxas existem!
ResponderExcluirKarla e Bernadette, vocês estão certas. Mulher ama diferente. E não dá para apagar, quando o amor é verdadeiro. Ele não "desaparece". Quando se vai deixa uma cicatriz que dói em todos os dias nublados...
Que menina nunca idealizou um principe encantado chegando em um cavalo branco e um belo final feliz?????? Os encantos de um primeiro amor jamais ficaram esquecidos.... os olhares, as mãos dadas, o coração batendo forte, o dia (encontro) escrito no diário perfumado, o primeiro beijo.... saiba que poucas, mas, poucas mesmo conseguiram "parar" o tempo e continuar nesse eterno conto de fadas...esquecer? JAMAIS!!! Pois hoje somos mulheres frutos das topadas e linhas tortas do destino... isso nos faz forte e capaz de lutar pela nossa felicidade. Saiba que tudo valeu a pena.... fui um amor e ficaram várias pessoas do seu "conto de fadas" outras formas de amores rsrsrsrrs, justamente por isso VALEU A PENA!!!!! Como disse um dia nosso querido Vinícius de Morais "A vida é a arte dos encontros, embora haja tantos desencontros pela vida" e assim vamos seguindo em frente, sonhar é o combustível da vida. Fabiana.
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