Liberdade. Ou a falta de…

Você já sentiu a obrigação de se sentir feliz?

Ora, afinal, sua vida parece boa. Você tem o que precisa para viver bem.

Filhos inteligentes e saudáveis. Família. Estudo. Emprego. Possivelmente até um carro na garagem, casa própria ou o dinheiro do aluguel.

Um marido barrigudinho e gostoso ou uma esposa linda para dar inveja na vizinhança. Pode até nem ter parceiro(a) fixo, mas ficantes lhe dão prazer e companhia suficientes…

Ah, tudo tão certinho!…

Narizinho no lugar. Algumas ruguinhas que não fazem mal a ninguém. Que são alguns quilinhos a mais numa roupa preta de boa qualidade? Fios brancos cobertos com uma boa tintura. Maquiagem e perfumes comprados na perfumaria da moda, em preços de ocasião.

O que pode faltar então?…

Uma música denuncia. Outros acordes trazem a confirmação. Tem coisa aí no nosso peito… Segura, que vem um suspiro profundo! Rola a lágrima que teimou em sair. E outra e outra mais. Um pranto inteiro de quem não tem motivo para ser infeliz.

O copo que olha. O gelo que derrete intacto. A comida que esfria e não falta. Ausência de chão.

Sei não…

Não consigo me sentir feliz nem por obrigação!

Será que isso tem remédio? Talvez…

“Liberdade”

(Carlos Marighella)

“Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.
Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.
Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.
E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome”

(São Paulo, Presídio Especial, 1939)

“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”

(Clarice Lispector)