domingo, 17 de fevereiro de 2013

Sobre o absurdo ocorrido na escola municipal de Muniz Freire

cores

Trabalhando na Educação há mais de trinta anos, com currículo profissional que passa por escolas particulares e públicas, no Rio de Janeiro e Espírito Santo, exercendo as funções de professora e pedagoga, posso afirmar que nunca vi algo parecido com tamanha absurdo, que está acontecendo numa escola municipal, do município de Muniz Freire/ES!

Conheça a história, que está sendo veiculada na midia:

Na cidade de Muniz Freire, na Região do Caparaó – cidade com cerca de 20 mil habitantes –, as escolas municipais ainda adotam um esquema duvidoso de distribuição dos alunos por classes. O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) acusa uma das instituições em particular de discriminação social, ou seja, filhos de pessoas influentes ficam em salas separadas dos demais, de origem mais carente. 

A escola, que pode ser alvo de uma ação do MPES, é a Lia Terezinha Merçon Rocha, que atende a cerca de mil alunos, da 1ª à 8ª série do ensino fundamental, e possui 39 turmas. Para cada série, há uma em especial que, segundo a Promotoria do município, atende aos filhos de pessoas consideradas “de prestígio” na cidade, ou “os mais inteligentes” – e com direito aos professores mais capacitados.

De acordo com o promotor Elion Vargas, o assunto é prioridade do órgão. “Discriminação é coisa da Idade Média. Como no município não existe escola particular, há muitos anos que se cultiva esse hábito de separar os pobres dos ‘bacanas’. Acredito que cerca de 80% dos alunos eram afetados com essa medida, que é uma violação dos direitos”, disse. (http://gazetaonline.globo.com)

E o que dizem os professores:

Os professores também não creem que as antigas medidas possam ajudar na vida escolar das crianças. “Vimos a necessidade de essa escola ser mais humanizada, criando potencialidades dentro da diversidade. A secretária de Educação, a nossa diretora e a maioria dos professores acreditam nessa revolução igualitária”, disse a professora Nádia Reis. (http://gazetaonline.globo.com)

Estou escandalizada. Não posso imaginar a possibilidade da divisão de alunos por turmas que não seja por critérios de cunho pedagógico. Ainda mais, neste caso, por questões econômico-sociais. Parece coisa da Idade Média, na contra-mão dos avanços que já aconteceram no Brasil!

Quando li a matéria no jornal, fiquei imaginando quanta riqueza já se perdeu nessa prática costumeira, naquele município, por anos a fio... E estou falando de riqueza verdadeira, aquela que tem a ver com o conhecimento acumulado e produzido no processo de ensinar e aprender! Uma riqueza que todos ganham e nunca se perde: c o n h e c e r!

Já vi turmas serem montadas por critérios de faixa etária, de níveis de aprendizagem, de rendimento obtido no ano anterior. Não gosto de nenhum desses. Prefiro o acaso, apenas com o cuidado de se considerar o número aproximado de meninas e meninos, para evitar que os interesses de um gênero (da maioria) prevaleça sobre os do outro.

Acabou a conversa. Acredito, e já experimentei o suficiente para continuar acreditando, que a aprendizagem mais eficaz acontece na heterogeneidade. Experiências diferentes enriquecem a troca. Alunos com níveis cognitivos diversos promovem o crescimento de todos, pois afinal a aprendizagem acontece quando, frente ao novo, há a intervenção de alguém.

Geralmente, é esse o papel do professor, ser o promotor do processo e o seu principal intermediário, que é fazer com que chegue ao aluno. Mas é na troca, no convívio em sala de aula, onde todos buscam e, ao mesmo tempo, onde todos trazem, que se efetiva a construção do saber! Nesse sentido, ainda não há substituto ideal para se promover o Ensino, que não seja a Escola!

Numa classe onde todos já sabem um pouco, pois trazem o seu conhecimento da vida, os valores e os saberes transmitidos pela família e pelo meio, todos têm mais o que trocar e construir. É tão óbvio…

Aquele que sabe mais, faz o outro desconfiar que precisa aprender mais alguma coisa, pois ele avalia o seu próprio conhecimento e percebe que não dá conta da situação com eficácia. E isso pode se dar com o colega do lado, não necessariamente com o professor. Alunos devem sentar em duplas ou em pequenos grupos para incentivar esse processo. Afinal, nem toda conversa em sala de aula deve ser evitada. Algumas são bem-vindas, pois são necessárias para alguém crescer… E, mais ainda, para o crescimento da turma!

Acabou-se o tempo de se compreender o professor como detentor do saber absoluto. Para nós, professores, isso já está bem claro. Mas não é o bastante, pois o nosso poder é limitado, frente às instituições que comandam o ensino e são as responsáveis por aberrações tal como esta citada no início da matéria.

A sociedade não pode se calar, frente às práticas que incentivam o preconceito e à discriminação social. Precisamos mostrar a nossa indignação! Cabe ao Ministério Público ser o nosso porta-voz.

Que a justiça seja feita.

O Brasil inteiro agradece.

preconceito

5 comentários:

  1. Bacana ver tanta indignação, mas a separação entre ricos e pobres que a escola pública e privada provocam não incomodam ninguém?

    Na Finlândia, que tem a melhor educação aqui no Ocidente, não existe essa separação absurda e descarada à que nos acostumamos, a educação é de qualidade e para todos Educação de qualidade não pode ser mercadoria, ela é um direito de todos.

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  2. Gente parece que estamos no século passado. Que absurdo.Suelly Nubia.

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  3. Absurdo que tem um nome: preconceito. O pior é que se denuncia tal desgraça e fica do mesmo tamanho. Lamentável também que só a Denise proteste.

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  4. Pra mim já passou da hora de TODO o sistema educacional no Btasil ser reformulado, é ridiculo a mesma professora que me deu aula aos meus 14 anos, ainda trabalhar na mesma instituiçõ e dar aulas a meus filhos., não é necessario ser nenhum especialista para perceber que desde a época que eu estudava ( á cerca de 20 anos ) muita coisa mudou, e porque a educação, área mais importante, permanece stagnada?

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    1. Faz parte da rotina de qualquer profissional a sua constante atualização. Para os professores isso é fundamental! Mas para a escola acompanhar os avanços dos recursos tecnológicos é muito difícil. Concordo que ela é uma instituição muito tradicionalista e que precisa ser revista. Um abraço e apareça sempre.

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