Meu lindo balão azul! Está chegando a hora…

Odeio voar, mas hoje abrirei uma exceção.

Com licença. Entrarei no meu lindo balão azul e irei rumo as minhas incontáveis lembranças… São tantas, que já não cabem mais em mim. Andam por aí, dentro de alguns meninos e meninas. Muitos já deixaram a infância faz tempo. Cresceram.

Foram muitos dias de trabalho, em sala de aula, desde mil, novecentos de oitenta e um. Cada um deles, totalmente, diferente do outro. Nunca houve dois dias iguais… Nem um aluno igual ao outro! Cada um dos mais de mil e setecentos alunos que tive (num cálculo aproximado) é único! Deixou sua marca em mim, e levou uma lasca de mim…

Porém não pensem que fiquei em frangalhos! Ao contrário, um professor se refaz como uma colcha de retalhos, com pedaços de amor. Os alinhavos são costurados no dia-a-dia, com cada conquista, cada vitória,  cada aprendizagem obtida…

Raça de luta, essa nossa, de professor! Guerreiros, com coração de manteiga… Estou aqui pensando em todas as batalhas que enfrentei, em tantos duelos que venci, em outros tantos que perdi…

Bruno Zorzanelli, do Marista, que virou estrela, num acidente de carro fatal. Jamais esquecerei! Tão tímido, tão educado, tão inteligente… Talvez existam outras estrelas, não sei.

Alguns alunos que foram da minha primeira turma: May, João, Ricardo, Ricardo Oliveira, Marcelo Ferreira, Luiz Cláudio, Flávia, Flávia Monteiro, Viviane, Anna Glória, da segunda série, da escola Rômulo Quintanilha, no Méier, ainda no Rio de Janeiro. Ano: mil, novecentos e oitenta e um. Nunca mais ouvi falar… Adultos. Casados ou não, formados ou não. Felizes, eu espero!

Depois desses vieram tantos outros. Cariocas e capixabas. Também alguns baianos, paulistas e mineiros morando pelas bandas daqui. Brasileirinhos que tive o prazer de conviver por dias e dias, em cada ano letivo.

E agora está chegando o fim!

Amanhã é a festa de encerramento da minha última turma, como professora efetiva. Já está em processo adiantado a minha aposentadoria.

O nó na garganta já incomoda. Que profissão é essa que a gente reluta em largar?

O que sei é que há muito mais do que troca de informações. Não há um que ensina e nem outro que aprende. O desafio de aprender é conjunto, contínuo, desafiador. Mais importante do que informar é FORMAR essa pessoa que está ali, junto… E essa pessoa é o aluno. Mas às vezes, é você…

E, nesse relacionamento que se estabelece, criam-se vínculos e esses, meus amigos, são para sempre!

Lindo Balão Azul foi uma das primeiras coreografias que criei com minhas crianças, há quase trinta anos atrás... Amanhã refaremos a dança. Sei que terei dificuldades em segurar as lágrimas. Só de imaginar, elas já estão querendo vir…