sexta-feira, 9 de junho de 2017

Era eu...


Era muito tempo atrás... Talvez nem tanto. Falar de tempo é sempre um tanto relativo.

Era eu no Rio de Janeiro. Rua Porto Alegre, Engenho Novo. O endereço que ainda faz parte de mim. A parte de que sinto falta.

Era eu ainda pequena. Meninota. Serelepe. Cheia de sonhos e alguns pesadelos, como qualquer criança. 

Era eu brincando de bonecas, amarelinha, jogando bola, enchendo o quintal de bugigangas e demorando horas aborrecidas para guardar aquilo tudo, ao final do dia.

Era eu na mesa da copa, lanchando café com leite e molhando nele o pão com manteiga. Algumas vezes, escorria o leite pelo queixo e descia até a barriga. Fazia cócegas e a maior melança!

Era eu descalça, com os pés imundos, recusando a lavá-los, sonolenta, na hora de dormir...

Era eu que queria comer todos os doces, todos os biscoitos, todos os sucos e nenhum legume. 

Era eu que sentava naquela mesma mesa das refeições para fazer a tarefa de casa da escola. E, quando não sabia fazê-la sozinha, pedia ajuda a minha avó, que só tinha estudado até a 4ª série, mas sempre sabia tudo e estava pronta para ajudar!

Era eu que morava ao lado da casa dela e sentia o cheiro do seu café fresquinho. 

Fui eu que vivi uma infância com grandes perdas e enormes dificuldades, mas recebi muito amor para compensar.

Sou eu que deixei de ser pequena e que cheguei até aqui. Parece até mentira que já vivi tudo isso...

Ô saudade que às vezes aperta!

(Dedicado a todos que ajudaram a acalentar a minha infância e ao querido amigo Hércules que provocou estas memórias.)

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